Afinal, O que é Educação Somática?


AFINAL, O QUE É EDUCAÇÃO SOMÁTICA?

AFINAL, O QUE É EDUCAÇÃO SOMÁTICA?

Débora Pereira Bolsanello

Fonte: https://www.facebook.com/notes/d%C3%A9bora-bolsanello/afinal-o-que-%C3%A9-educa%C3%A7%C3%A3o-som%C3%A1tica/686735378012854/

 

O ARTIGO A SEGUIR É O PRIMEIRO CAPITULO DO LIVRO EM PLENO CORPO: EDUCAÇÃO SOMÁTICA, MOVIMENTO E SAÚDE, 2ª Edição (2010), Débora Pereira Bolsanello (Org.), Editora Juruá, Curitiba.

A Educação Somática é um campo teórico-prático composto de diferentes métodos cujo eixo de atuação é o  movimento  do  corpo como via  de prevenção ou de transformação de desequilíbrios de  uma  pessoa. Os métodos mais antigos foram se estruturando desde o início do século XX na Europa e na América do Norte.

Irmgard Bartenieff (*1900 † 1981) nasce na Alemanha. Como muitos intelectuais da época, teve uma formação pluridisciplinar: estudou canto, balé, dança moderna, dança espanhola, arqueologia, história da arte, alemão antigo e medieval, biologia e botânica. Moshe Feldenkrais (*1904 † 1994) é judeu ucraniano, doutor em engenharia, faixa preta de judô, tendo vivido nos primórdios do estado de Israel. Mathias Alexander (*1869 † 1955) nasce na Tasmânia, fez carreira como ator shakespeariano na Austrália e Nova Zelândia. Thérèse Bertherat (*1931) é francesa, fisioterapeuta, tendo estudado com Françoise Mézières (*1909 †1991). Lily Erhenfried (*1896 † 1994) é médica e fisioterapeuta, estudou com Elsa Gindler e viveu as duas Grandes Guerras Mundiais. Sendo judia, fugiu para a França, onde conseguiu escapar do nazismo fingindo-se de muda para que não a descobrissem através de seu sotaque alemão. Joseph Pilates (*1880 † 1967) é alemão, atleta e enfermeiro. Preso durante a Primeira Guerra, começou a desenvolver na prisão os primórdios do que hoje conhecemos como o Método Pilates. Gerda Alexander (*1908 † 1994) é alemã, seu projeto inicial era de ser bailarina.  Emilie Conrad (*1934) é bailarina, judia norte-americana, suas  investigações começam durante o tempo em que viveu no Haiti como integrante de uma companhia de dança. Ninoska Gómez (*1946) é venezuelana, doutora em Psicologia do Desenvolvimento  Psicomotor, foi docente no departamento de kinesiologia da Université de Montréal, vive hoje no Estúdio Los  Almendros, que fundou à beira-mar na Costa Rica. Danis Bois (*1949) é francês e osteopata, fundador do Centro de Estudos e Pesquisas em Psicopedagogia Perceptiva na Universidade de Porto, em Portugal. Godelieve Denys Struyf (*1931† 2009) vem de família belga, nasceu no Congo, onde viveu até a idade de 16 anos.  Estudou  belas artes, fisioterapia e acolheu em seu trabalho as influências de seu marido,  especialista em medicina chinesa. Bonnie Bainbridge Cohen (*1949) é norte-americana, terapeuta ocupacional, trabalhou com crianças com pólio em contexto hospitalar. Rubén Sejas (*1949) é argentino, físico matemático, catedrático em psicomotricidade na Universidade Nacional de Lomas de Zamora, em Buenos Aires. Juliu Horvath (*1942), bailarino nascido na cidade de Tmisoara, România, partiu de seu país em 1970, tonando-se cidadão norte-americano e ainda hoje vive nos EUA.

Esse livro é composto de uma ciranda de representantes das seguintes abordagens: Bartenieff, Técnica de Alexander, Feldenkrais, Antiginástica, Eutonia, Ginástica Holística, Continuum, Body Mind Centering, Cadeias Musculares G.D.S., Somaritmo, Pilates, Sistema Postural Seijas e Gyrotonic. Lamentamos a ausência de representantes do método Ideokinesis, preconizado por Mabel Todd (*1880 †1956).

Quando nos referimos à somática, nos remetemos à palavra soma, reinventada por Hanna (2003). Ele distingue os conceitos de corpo e soma:  « (…) soma é o corpo subjetivo, ou seja, o corpo percebido do ponto de vista do indivíduo. Quando um ser humano é observado de fora, por exemplo, do ponto de vista de uma 3ª pessoa, nesse caso, é o corpo que é percebido ».  Hanna (1991) define:

Soma não é corpo e não é mente; é um processo vivo (…) A vida é um processo de movimento e o soma é um processo unificado de movimento (…) Soma é um corpo de funções (…) cujo atributo geral é de que todos os somas operam através de intenções (…) Somas humanos operam enquanto seres de livre intenção. Eles sempre intencionam e a intenção é o que mobiliza suas funções.[1]

A história de criação dos métodos apresentados nesse livro está estreitamente ligada à história pessoal de seu criador. Vários deles chegaram à formulação de técnicas em uma tentativa de solucionar questões pessoais: a perda de voz de Matthias Alexander; o problema de joelho de Moshe Feldenkrais; a doença renal de Mabel Todd; a insuficiência cardíaca de Gerda Alexander; as hérnias de disco de Seijas; os traumas pós-guerra de Conrad; as limitações físicas de Pilates; o traumatismo do calcâneo de Horvath, etc.

Embora todos os métodos utilizem o movimento do corpo tanto para a manutenção de qualidade de vida, a recuperação da saúde quanto para a prevenção, mas em quê abordagens como o tai chi, o yoga, a dançaterapia, a somaterapia, o chi ckung se diferenciam dos métodos de Educação Somática?  O que pode-se considerar um método de Educação Somática? No Brasil, a identidade do campo ainda é porosa, porque ainda não existe uma associação onde representantes dos métodos possam propor as fronteiras da Educação Somática, como está sendo realizado pelo Regroupement pour l´Éducation Somatique desde 1995. EM PLENO CORPO visa colaborar à formação de uma identidade do campo da Educação Somática no Brasil.

Cada método de Educação Somática tem conceitos e linguagem próprios, assim como estratégias pedagógicas específicas que o caracterizam. Porém, todos os métodos focalizam um ponto comum: utilizar o movimento consciente do corpo na recuperação da saúde bem como para manter uma boa qualidade de vida. De outro lado, Strazzacappa (2009) pergunta: “A Educação Somática poderia englobar todas as técnicas corporais desde que praticadas de forma consciente? [2]”

O conceito de soma ainda é marginal em relação às concepções de corpo veiculados nos meios de comunicação de massa. Que valores estão por trás da maneira com a qual concebemos e vivemos o corpo na atualidade? No presente capítulo examino alguns aspectos do corpo contemporâneo, apresento o contexto histórico e social que possibilitou a emergência dos métodos de Educação Somática e proponho os  conceitos de descondicionamento gestual, autenticidade somática e tecnologia interna como sendo comuns aos métodos de Educação Somática.

No capítulo “Gênese e Aplicação dos Métodos de Educação Somática”, o leitor conhecerá a história e alguns dos princípios dos métodos apresentados.  Quem os criaram ? Como se deu a estruturação desses métodos? Que visão de mundo eles veiculam?  Quais as aplicações possíveis ? Por fim, no capítulo “Educação Somática e Interdisciplinaridade” encontraremos exemplos de profissionais que inspiraram-se do campo da Educação Somática para o desenvolvimento de pesquisas acadêmicas.

Nosso corpo não é somente nosso

 

É fundamental o exame dos valores que estão por trás do modo como o corpo é vivido, tratado e apresentado em um momento onde assistimos ao abuso dos recursos naturais do planeta; onde laboratórios torturam animais para testar produtos cosméticos a serem usados para tornar os humanos mais belos e cheirosos. Se a informação sobre o ADN serve aos interesses econômicos de empresas de biotecnologia e indústrias farmacêuticas, é preciso se ter uma postura crítica quanto à incitação mercantil que nos conduz ao uso que fazemos de nosso corpo.

Quando se fala de corpo, se fala de política e economia. Hoje, com todas as catástrofes que estão nos assombrando, é  de extrema importância colocarmos em evidência abordagens educacionais que consideram o corpo como organismo vivo inteligente, criativo e interdependente dos outros seres vivos que habitam o planeta.  Sabemos que nosso corpo deve sua existência à Terra.

Cada povo tem seus conceitos próprios sobre o corpo: o que é considerado bonito ou feio; saudável ou doente; hábil ou inábil. Esses conceitos de corpo forjados coletivamente pela cultura são integrados pelos indivíduos e são vividos, na maior parte do tempo, como percepções subjetivas. Por ser um tema por demais amplo, escolhemos abordar aqui três das facetas do corpo tal como vivido na contemporaneidade ocidental:  o corpo imagem, o cibercorpo e o corpo malhado. Por ocidente, nos referimos  à Europa e à América do Norte, que  através de sua supremacia econômica e política, impuseram seus valores e modo de  vida através dos séculos até hoje a  América do sul, da Ásia e África. Os modelos de corpo aqui apresentados são veiculados pela televisão, nos jornais e revistas, na Internet, na publicidade de modo geral e no cinema.

As  concepções de corporeidade constituem o eixo em torno do qual se articulam as intervenções sobre o corpo, sejam elas terapêuticas, estéticas, educacionais, científicas, etc. O momento histórico que vivemos é de globalização, onde a tendência é uma economia “pasteurizante” que insiste em uniformizar os valores de povos cujas culturas são naturalmente distintas.

Enquanto profissionais da área de educação, saúde, cultura e artes, é fundamental que possamos reconhecer na nossa cultura e na de nossos alunos/pacientes tanto os modelos de corpo rejeitados quanto os estimados, modelos vigentes ou marginais. Até que ponto esses modelos de corpo veiculam padrões motores intrinsecamente ligados a problemas bio-mecânicos, cognitivos e afetivos? Reconhecer esses padrões motores significa considerar os conceitos de corpo que o sustentam. O “problema” – seja ele dor física, má adaptação social, desconfortos psicológicos ou deficiências cognitivas – uma vez contextualizado, nos permite lançar mão de estratégias realistas, precisas e duráveis  para a transformação do quadro.

Quando um profissional do movimento ensina ou trata uma pessoa, ele deve  considerar o contexto sócio-cultural de onde vem aquela pessoa. O conteúdo prático das aulas ou as manobras propostas no corpo da pessoa pode levá-la a viver experiências senso-motoras que são tabu em sua cultura. Por exemplo, o movimento de báscula da bacia pode ser considerado por algum aluno como evocador do ato sexual. Esse aluno pode reagir de diferentes formas: vergonha, lágrimas, risos, rejeição do movimento, raiva do professor que “impõe” a ele o movimento; trancar os músculos para não sentir nenhuma sensação enquanto faz o movimento; cair no sono, etc.  No entanto, a báscula da bacia em si não tem absolutamente nada de sexual. Conscientes das conexões entre corpo e cultura podemos reavaliar sensações e imagens que temos de nós mesmos no que toca às noções de beleza, moral, saúde e identidade. É importante que os profissionais do movimento estejam conscientes dos modelos de corpo vigentes em sua própria cultura, a fim de não impô-los inconscientemente a seus alunos, nem convencê-los de que seu modelo é o “certo”.

O corpo imagem

A partir do Renascimento, grandes transformações sociais, econômicas, científicas e políticas começaram a perturbar a imagem que até então o homem tinha de si mesmo e da realidade que o cercava.

De forma geral, o homem da Idade Média era submisso ao poder da Igreja Católica Apostólica Romana. O corpo do homem medieval é por si só pecaminoso, limitado à forma e ao destino que Deus lhe deu. Quando o homem renascentista inventa o telescópio, alça sua vista para além de territórios conhecidos e empreende viagens em continentes longínquos. Os limites do corpo medieval começam a se expandir. É na Renascença que a medicina começa a se dissociar da religião. Com a dissecação de cadáveres,  os estudos sobre o corpo começam a conquistar espaço oficialmente a nível acadêmico. O corpo enquanto objeto de estudo de doutores é um marco tão fundamental para o conceito que o ocidental tem de corpo que ainda hoje, a medicina  é, de alguma maneira, a “detentora do saber oficial  do corpo”[3].

É a partir da Renascença que as aglomerações urbanas tornam-se cada vez mais importantes. Em comparação com o espaço rural, onde a natureza dita o ritmo da vida do homem,  o espaço urbano é construído e organizado segundo a escala do corpo humano e seu ritmo. Na cidade, a distância entre os indivíduos é menor; as atividades intelectuais se multiplicam em detrimento das atividades físicas. O homem urbano paga no mercado aquilo que não plantou e não colheu.

Com o recuo gradual do poder da Igreja e com o avanço de uma organização social cada vez mais leiga, a Renascença vê a emergência de uma idéia até então inexistente no imaginário do homem ocidental medieval: o indivíduo.  Sendo um indivíduo,  o homem tem poder sobre o próprio corpo. Le Breton (1990) mostra essa transição através de uma tendência da arte Renascentista à representar o corpo de indivíduos específicos.  O gosto por se retratar personagens “encarnados” oriundos da nobreza, do clero ou da burguesia foi inaugurado durante a Renascença.

Durante o século XVIII, século das Luzes, acentua-se a separação entre a ciência e a religião. A tendência então é a busca racional da compreensão de si e da realidade, em oposição à emotividade espiritual dos séculos precedentes, onde o discurso oficial da Igreja era tido como o único meio de se fazer sentido da existência humana.

Nos séculos das Luzes, a visão é tida como superior aos demais sentidos, associando-se à razão e à ciência. As descobertas tecnológicas da época são extensões da visão: o telescópio,  o microscópio, a imprensa.

Hoje, a visão ainda é o meio privilegiado de conhecimento. Ainda que se utilize todos os sentidos em suas atividades cotidianas, o modo de vida nas sociedades urbanas contemporâneas privilegia o sentido da visão. A visão é, para o ocidental contemporâneo, fonte de apreensão do real e meio de comunicação. A extrema valorização da imagem está vinculada a um desenvolvimento tecnológico que depende quase que exclusivamente da visão: a fotografia, o cinema, a televisão, o computador, o vídeo,  a Internet, o correio eletrônico.

Com o uso da tecnologia medical, o médico interpreta os sinais da doença tal e qual é “visto” pelas máquinas. Investido do poder da ciência; revelador dos mistérios do corpo e responsável pela longevidade dos demais, o médico é o principal recurso em caso de doença.  Respaldada por uma tecnologia visual – ecografia, ressonância magnética, radiografia, cintilografia, densitometria (scanner), mamografia, etc. – a palavra do médico é, muitas vezes, irrefutável.

Não se trata de descredibilizar os avanços tecnológicos da medicina ocidental, mas de situar seu ponto de vista dentro de uma lógica cultural. Isso significa que outros sistemas de diagnóstico e tratamento oriundos de outras culturas são coerentes com uma lógica intrínsceca à cultura de origem, sendo portanto tão objetivos e válidos quanto à medecina ocidental.

Três metáforas do domínio da visão no ocidente contemporâneo são o cinema, os jogos eletrônicos e a cirurgia estética. É patente o deleite que o homem contemporâneo tem pela imagem: as câmeras numéricas, o “BlackBerry”, os celulares com câmera, as máquinas filmadoras e os inúmeros os programas  visando o registro de imagens e sua manipulação. Até mesmo os suportes do tipo MP3, MP4, que a princípio é são dispositivos de registro e reprodução do som, oferece imagens ao usuário, enquanto ele escuta sua música preferida.

No marketing, a imagem do corpo humano é apresentado como um carrefour entre o real e o fictício. Essa ambiguidade alimenta o consumo de produtos e serviços que promete nos fazer parecer com os belos corpos dos anúncios. O corpo humano contemporâneo é um objeto virtual. A antropóloga canadense Constance Classen (1995) chama nossa atenção para o fato de que compramos a maioria dos produtos a venda através da imagem que a mídia oferece. Mesmo os perfumes, que a priori podem ser comprados pelo aroma que têm, são vendidos através da imagem de corpos cuja beleza nos parece inatingível.

Na web e na tevê, testemunhamos uma desprivatização do corpo:  atos antes circunscritos à vida privada são hoje expostos nos sites de pornografia, Youtube e programas do tipo Big Brother. Com o Facebook e o Orkut, cria-se o perfil que se deseja ter. A relação entre os usuários se faz em detrimento do corpo e a quebra de privacidade é normatizada.

É bastante significativo constatar que o cinema hollywoodiano é uma das indústrias mais prósperas do globo. O jogo de rede e os joguinhos eletrônicos é outra indústria de ponta cuja receita é astronômica, sendo uma das atividades mais valorizadas pelos adolecentes de hoje. Tal como um coliseu romano contemporâneo,  o cinema “de ação” e os jogos de rede formam  mentalidades na medida em que comercializam uma imagem de corpo humano por vezes aberrante, torturado, monstruoso e decomposto, por vezes dotado de habilidades que extrapolam o limite do corpo humano. Ora, o mito do herói cujo corpo tem poderes sobrehumanos sempre existiu na história da humanidade. Mas, se em outras época as proezas dos heróis eram sobretudo partilhadas através de narrações orais e com fins de educação moral-espiritual, hoje, podemos ver em detalhes toda violência imposta ao corpo e as proezas do supercorpo sem nenhum objetivo além da diversão.

O cibercorpo

Com o processo de industrialização na Europa, desde o final do século XVIII, o corpo humano está face a face à sua fragilidade e faibilidade em relação à eficácia, rapidez e precisão das máquinas.

A partir do século XIX, a medicina desenvolve especializações que tratam partes do corpo. Hoje, a linguagem biomédica é consagrada o saber oficial sobre o corpo, sendo veiculado nas universidades, laboratórios e na mídia. Todo e qualquer aspecto simbólico do corpo é de domínio da psicologia, da sociologia e da antropologia. Segundo esse ponto de vista, o corpo em si é desprovido de outro significado que sua própria materialidade.

Com a ascensão das novas tecnologias de informação no século XX, a relação entre o corpo e a máquina se intensifica. O sociólogo francês Le Breton (2001) vê o corpo contemporâneo essencialmente como tecnocrata, pré-simbiótico à cibernética e tendo em breve sua forma e funções manipulados pelos sacerdotes da genética.

Hoje, falamos de nosso computador como se fosse gente. Tocamos a tela para sacar dinheiro do banco e para localizar-nos dentro de um shopping. Preferimos consultar o GPS do que parar o carro e perguntar a um transeunte: “onde fica a rua tal?”  Ficamos irritados quando o computador “custa a responder”.

O conforto nascido da revolução informática redefine o corpo, que desterritorializa-se através das “extensões” que as máquinas lhes conferem: os serviços bancários automatizados, a secretária eletrônica, a caixa de mensagens telefônicas, o telefone celular, a Internet, o e-mail, e uma série de redes de comunicação instantânea: buzz, twitter, facebook, orkut, msn, skype, etc. As tecnologias de informação e a comunicação mediatizada  tornaram-se, de algum modo, testemunhos da existência do indivíduo. Isso quer dizer que a integralidade do corpo é cada vez menos necessária para se atestar a presença de um indivíduo. Auxiliado pela informática, o indivíduo não está mais circunscrito nem a um território nem a um corpo biológico. O desenvolvimento incessante da tecnologia de informação favorece a liberdade de ir e vir, transcendendo as ditas “limitações” do corpo. Hoje, via internet, é possível se conversar com pessoas que nunca encontraremos em carne e osso. Tal como afirma Le Breton (2001), o ciberespaço é  a tribuna onde o indivíduo pode apresentar suas opiniões e desejos sem representar-se corporeamente. Lupton (1995) resume a atual dependência do homem ocidental em relação ao computador afirmando que o tempo que passamos diante de nossa tela nunca equivalerá ao tempo que tenhamos contemplado um rosto humano.

Hoje, nos grandes centros urbanos, é possível se viver sem que a totalidade do corpo esteja implicada na busca de recursos essenciais à sobrevivência: através da Internet ou por telefone podemos comprar comida; pagar nossas contas, arranjar uma namorada ou marido, ter os papos mais profundos com nossos amigos, encomendar livros e até obter prazeres sexuais.

Nenhum instrumento na história da humanidade passou tão rápido de instrumento a espaço quanto o computador. Indispensável, ele não só é objeto como também objetivo em si, reunindo excepcionalmente áreas da vida humana até então desconexas: trabalho, comunicação e diversão.  A tecnologia da qual somos dependentes hoje redefine nosso corpo, reduzindo-o a dedos e olhos. A promessa que o sentido da visão nos permite ultrapassar os outros sentidos em uma ciber-sublimação do corpo anda de mãos dadas com a tão contemporânea experiência de compressão do tempo.

O corpo urbano contemporâneo é submetido ao ritmo da informática, um corpo cuja gestão da impaciência fica a encargo do telefone celular, do MP3, Ipod, do Black Berry: amuletos contra a solidão, a preocupação, a ansiedade e as filas de espera. Esse indivíduo, cujo corpo vaga impreciso, precipita-se aos centros de condicionamento físico, onde poderá enfim obter alguma sensação de limite e forma : o alívio para a angústia que a falta de limite que os ciberespaço e cibertempo nos impõem hoje.

O corpo malhado

É interessante notar que o termo “malhar” é usado quando nos referimos a metais: malhar o ferro significa dar-lhe forma, batendo com um malho. Na linguagem popular, também dizemos “Fulano desceu o malho”, para dar a entender que uma pessoa brigou, foi duro ou severo com alguém. Em inglês, body building é o equivalente de “malhar”, mas literalmente,body building significa “construindo o corpo”. Trata-se da prática de exercícios que têm por objetivo fortalecer a musculatura do corpo, retardar as marcas do envelhecimento e aumentar sua capacidade de performance. Dentro de uma perspectiva cultural, a malhação é uma estratégia identitária de reforçamento das fronteiras do indivíduo. Ou seja, aquele que malha investe sua energia física para demarcar seu território: o corpo malhado é um corpo limitado a um território anatômico, identificado pelas roupas e acessórios que usa.

Existe uma nuance entre fitness e body building. Frequentemente, nos referimos aos dois indistintamente como “malhar”. De forma geral, “malhar” é valorizante para o indivíduo, pois exige disciplina, constância, força de vontade e apresenta resultados mensuráveis.

O fitness caracteriza-se por ser uma prática normatizante, enquanto que o body building é reservado aos que buscam desafiar os limites de seus corpos. Ouve-se o praticante dofitness falar: “Eu malho e por isso estou em forma!” Mas, de que “forma” ele fala? Na maioria das vezes, quando alguém diz que está “em forma”, ele faz referência à forma do corpo associada à imagem de saúde e beleza que nos é dada pela cultura. Muito do que chamamos “cultura” está impregnado hoje das necessidades geradas pela mídia. Estar em forma segundo os cânones do fitness nada mais é do que uma necessidade desenhada pela indústria para vender produtos e serviços que prometem ao indivíduo uma melhor aparência e em consequência, a esperança de uma melhor performance sexual, maior auto-estima e obtenção de privilégios sociais advindos de uma maior competitividade no mercado de trabalho.

Já o body builder malha não somente para estar em forma, mas como uma ascese, uma busca de auto-superação: ganhar mais músculos, ter mais definição de um determinado músculo. Ele literalmente constrói seu corpo, objetivando participar de apresentações públicas e concursos. Diferentemente dos adeptos do fitness, a dieta do body builder é controladíssima e não é raro que lance mão do consumo de complementos alimentares que dão suporte à exigente rotina de exercícios que ele se auto-impõe.

Dentre as práticas de construção da aparência em nossa sociedade atual, o fitness é, sem dúvida, uma das mais populares, talvez por estar socialmente associada ao bem-estar e à saúde.  Dizemos “corpo sarado” quando nos referimos ao corpo de alguém que malha. É uma expressão que testemunha essa associação.

Tanto no caso do fitness quanto do body building, o culto do corpo hipertônico é freqüentemente veiculado na mídia representando sucesso, capacidade de performance, prazer, jovialidade, agilidade e sensualidade. O corpo malhado é apenas um exemplo de que hoje podemos escolher e comprar o corpo que queremos ter. É só notar que na maior parte dos casos nem o adepto do fitness nem o body builder exercem necessariamente profissões que exijam força física. Hoje, ser musculoso é uma escolha.  Outrora, o corpo musculoso era exclusividade dos “selvagens”, escravos e trabalhadores braçais: consequentemente não se podia conceber um corpo musculoso para rapazes e moças “de família”. Há mais de um século, o músculo ciselado não é mais identidade do trabalhador braçal; nem a pele queimada de sol identidade dos campesinos ou pescadores.  Os ideais de beleza se transformam, abrindo precedente para toda uma indústria de serviços e produtos que fabricam o corpo musculoso e bronzeado.

“Malhar” dispõe de métodos orientados não somente a modificar a aparência, mas também predispõe o corpo a um tema central na sociedade contemporânea: a performance. O corpo do malhador se compacta em um estado tônico que o torna capaz de lidar com o ritmo acelerado da vida e a multiplicidade de tarefas a serem cumpridas. A estética do corpo malhado é ao mesmo tempo porta-voz e reflexo de valores que circulam nos grandes centros urbanos: o corpo deve ser treinado para se adaptar às exigências sociais de produtividade; e para lidar com a competição, a superabundância de informações, a efemeridade das relações interpessoais, a superficialidade da comunicação, as pressões do consumo, a precariedade dos valores humanos…

À solidão do corpo malhado agregam-se máquinas e pesos. Não é raro que nas academias, a malhação seja acompanhada pela televisão, pelo espelho, por uma telinha que nos informa dos níveis de esforço ou kilômetros percorridos na esteira.  É como se levássemos o corpo à academia e o deixássemos ali para que o corpo pudesse pular, correr, saltar ou subir escadas imaginárias.

Observemos algumas das características dos movimentos propostos nos centros de condicionamento físico. Os movimentos são repetitivos e, na maior parte do tempo são lineares, herdeiros dos gestos feitos pelos trabalhadores de fábricas durante a Revolução Industrial na Europa. Cada região do corpo é trabalhada separadamente; os objetivos  do programa de condicionamento físico são traçados claramente: perder peso, endurecer a barriga, dar volume às pernas e aos braços, desenvolver a capacidade aérobica, reforçar grupos musculares precisos. A escolha do programa de exercícios é feita através de um acordo entre o personnal trainer e o cliente. Ou o cliente simplesmente se auto-prescreve uma sequência fixa de exercícios, que ele transforma em uma rotina a ser repetida cada vez que vem à academia.

Movimentos repetitivos nos dão sensação de segurança. O piloto-automático se instala e repetimos os gestos de modo ausente, reforçando as mesmas conexões neuronais. E para remediar a mesmice, levamos um livro para ler ao mesmo tempo que fazemos step; ou assistimos as notícias na televisão da academia, enquanto corremos na esteira.  A monotonia habita onde não há variação e torna o cérebro preguiçoso. Nos bastidores: distenção muscular, tendinite e bursite para os frequentadores de academia que, anestesiados pela pressa ou hipnotisados pele espelho, não escutam os sinais do próprio corpo.

Para quem não consegue “malhar” ao ponto de alcançar seu ideal de corpo, resta uma esperança: a cirurgia estética. Goldenberg afirma que:

Segundo a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, o brasileiro, especialmente a mulher brasileira, tornou-se o povo que mais faz plástica no mundo: 350.000 pessoas se submeteram a pelo menos um procedimento cirúrgico com finalidade estética em 2000. (GOLDENBERG: 2002, pg.9).

Esse é apenas um exemplo de que não podemos minimizar o peso das pressões sócio-culturais em torno do corpo. Geralmente, tendemos a pensar que algo é bonito pelo prazer sensorial que nos proporciona, mas colocamos pouca atenção no fato de toda estética tem um contrapeso econômico. Não é de hoje que a beleza é um sistema monetário. Tem quem pode pagar.

O outro lado do corpo

Abrigo

 

Abraça-te a ti

para nascentes

e revezes.

 

Contra a luz de fora

olha tua pele

lenta, de delicadas tramas.

 

As plumas claras inclinam-se.

São sutis os desenhos

à superfície

que esculpe e contém toda a alma.

Ana Paula Emerich

Outubro  / 2010

Corpo manipulável, liberto do destino que “Deus” lhe deu. Body building, fitness, piercing, escarificação, cirurgias estéticas, uso de anabolisantes, viagra e anticoncepcionais, implante de próteses, dopage, cirurgia de mudança do sexo, transplante de órgãos, perspectiva de clonagem e manipulação genética: o corpo contemporâneo é feito ao sabor das escolhas do indivíduo pelas mágicas da tecnologia. Através dos modelos de corpo imagem, cibercorpo e corpo malhado, apresentamos aqui apenas uma parcela do que vive hoje o ocidental. Desvinculado do sujeito, o corpo contemporâneo luta por sobreviver em meio a ideais inatingíveis de beleza; à comercialização de sua imagem; à sua reificação e “virtualização”; às solicitações da mídia; às exigências de produtividade; às dramáticas mudanças no meio ambiente; às freqüentes catástrofes naturais; às incertezas em relação à continuidade de nossa espécie; à manipulação genética; à reprodução fora da sexualidade; à sua hipersexualização; à sua submissão à autoridade médica; às promessas dos produtos farmacêuticos e cosméticos; à abundância de imagens de violência.

Cada povo tem um ideal de corpo inspirado, dentre outros fatores, por valores partilhados socialmente. Vimos que homem ocidental funciona segundo uma descoberta relativamente recente em sua história: o “ser indivíduo”, mestre de seu destino e portanto podendo adotar a aparência desejada, segundo seu poder aquisitivo.

O corpo humano tem uma história que moldou e ainda molda sua forma, seu sentir e seu relacionar. Porém, toda história tem dois lados. As tendências e valores dominantes não são os únicos protagonistas. O movimento de contra-cultura, o movimento feminista, a antropologia, as propostas da Fenomenologia e da física quântica formam um terreno fértil para a emergência de uma visão de corpo que difere do modelo dominante. Os métodos de Educação Somática nasce de movimentos sociais que questionam todo um paradigma.

A Europa desumanizada do pós 1ª e 2ª guerras mundiais, vive a abolição dos direitos humanos e a utilização de um poder de destruição até então inédito: a bomba atômica. Pouco a pouco,  despontam movimentos que se opõem à  guerra. Críticos ao modelo de homem industrializado e à lógica da produtividade, os filhos da contra-cultura pregam o resgate de uma visão humanista e coletivista. Portadores de uma ideologia de liberdade, os adeptos da contra-cultura se opõem a quaisquer formas de autoritarismo e questionam não somente instituições políticas, educacionais e religiosas como tabus morais que tocam o corpo e a sexualidade.

Hippies viajam o mundo em busca de experiências que poderiam renovar a  herança do pós-guerra legada por seus pais. Esses viajantes cabeludos tornam-se pontes entre diferentes culturas e trazem na sua bagagem, uma vez de volta para casa, a inspiração de sistemas filosóficos, métodos de desenvolvimento da consciência e técnicas de cura até então desconhecidos do ocidente.

Desde a década de 50, a indústria investe em tecnologias do conforto, vendendo aos lares aparatos que gradualmente liberam as mulheres de suas tarefas domésticas. Desvincular a mulher de tarefas domésticas significa que ela assuma progressivamente dois papéis: o de mão de obra no mercado de trabalho e o de consumidora. Essa nova posição econômica e social da mulher lança sementes para que na década de 60, o movimento feminista seja levado a sério. Além de sua importância para a defesa dos direitos da mulher no mercado de trabalho e quanto à sua participação na vida política, o movimento feminista tem um papel definitivo no questionamento do poder do indivíduo sobre seu próprio corpo. As feministas contrapõem-se à utilização do corpo da mulher como isca de marketing,  defendem o uso de contraceptivos e o direito ao aborto.

A antropologia também fornece contribuições inestimáveis à investigação do corpo humano, propondo uma relativização dos conceitos de corpo aceitos como “oficiais”. Ciência nascida no século XIX durante a colonização européia na América, África e Ásia, várias linhas da antropologia consideram em seus estudos o ponto de vista do povo estudado. As pesquisas de terreno, feitas por antropólogos que conviveram com povos os mais diversos reúnem dados e relatos que comprovam que cada povo vivencia a realidade do corpo segundo a realidade de sua cultura. Os estudos comparativos sobre as noções de corpo em diferentes culturas torna flexível o conceito de que o corpo é puramente biomecânico. Segundo Howes (2003), diferentemente do que se tende a imaginar, a utilização da visão, tato, paladar e olfato está vinculada ao contexto cultural.  À essa reformulação antropológica dos conceitos de corpo, soma-se à teoria defendida pelo neurofísico Alain Berthoz (2001), que categoriza o movimento do corpo como sentido.

Outra grande influência na consolidação de uma visão não-mecanicista do corpo é a Fenomenologia, corrente filosófica emergente entre o fim do século XIX e o começo do século XX. Segundo os fenomenólogos, a realidade tal como a percebemos não é objetiva, mas passa pelo filtro do sujeito. A realidade seria um consenso de subjetividades. Filósofos como Merleau-Ponty (1949) põem em evidência a subjetividade do ser humano em sua experiência corpórea. Varela (2000), biólogo chileno inspirado pela Fenomenologia, se interessa pelo corpo não mais como um objeto, mas como um fenômeno da experiência humana e afirma que : « (…) o problema não está em que não sabemos suficientemente sobre o cérebro ou sobre a biologia; o problema é que não sabemos suficientemente sobre a experiência. »[4]

A física quântica desafia o paradigma científico vigente que vê a realidade como puramente material. Segundo os cientistas dessa corrente, a percepção é a chave para o entendimento da realidade e de nossa existência corpórea, tal como propõe Romeo: “ Não somente a consciência não depende do cérebro como é o cérebro que depende da consciência. Isso vira o ponto de vista materialista newtoniano de cabeça para baixo.”[5] Seres humanos, animais, vegetais, minerais, enfim, tudo que existe, tem uma realidade corpórea que nada mais é do um aglomerado de atómos cujas partículas constituintes estão em contínuo movimento. Aquilo que vemos, sentimos, tocamos e ouvimos nada mais é do que uma infinitas posições onde essas partículas se encontram. O corpo não é: ele está sendo dentro de um espectro de possibilidades.

Como podemos ver no esquema, o campo da Educação Somática se situa ao lado de outras famílias de abordagens educacionais e terapêuticas. Terapias manuais; disciplinas orientais; terapias psico-corporais; técnicas de relaxamento e escolas de arte-terapia partilham com o campo da Educação Somática princípios comuns: os objetivos de desenvolvimento do potencial de consciência do homem, a prevenção da doença e o restabelecimento do estado de harmonia do homem com seu meio ambiente.

 

Descondicionamento  gestual e autenticidade somática

 

(…) você não aprenderá nada de novo,

mas desaprenderá um certo número de

hábitos adquiridos ao longo de sua vida.

 

Richard Brennan[6]

 

 

Uma colega fisioterapeuta trata de um pianista profissional cuja cifose atingiu tal grau que a deformação da coluna põe em jogo o bom funcionamento de seus sistemas respiratório e digestivo. Anos de estudo do piano sem qualquer enquadramento educacional-somático tiveram por resultado a fixação de padrões de movimento altamente performáticos a nível musical porém nocivos para a coluna do pianista.  “ Se eu endireitar minha coluna, não vou conseguir tocar”, afirma o músico.

Casos desse tipo são muito comuns. Desde nossa infância, aprendemos a suprir nossas necessidades através de uma gama de movimentos. Aprendemos por repetição a dar respostas motoras a fim de garantir nossa sobrevivência. Aprendemos a colocar a colher na boca, a andar, a permanecer sentado diante da quadro negro na escola, a descascar legumes, a falar diante de uma platéia, controlando nosso nervosismo. Movimentos que se fixam em constelações e se tornam padrões. Movimentos que cumprem a função de nos manter vivos.

O problema não está no estabelecimento de padrões de movimento. Sem eles não conseguiríamos repetir tarefas das quais dependem nossa sobrevivência. Porém, problemas como o fenômeno da dor, por exemplo,  aparecem quando a resposta que aprendemos a dar não é adaptada a novas circunstâncias. Se não expandirmos a rede neuronal ligada ao sentido cinestésico através do aprendizado de novas maneiras de mover-nos, ao longo de nossa vida forjaremos um vocabulário gestual restrito. É esse vocabulário gestual limitado que termina por desgastar a estrutura somática.

Cada vez que o pianista lê na partitura a nota MI, ele deve apertar o MI no teclado do piano. Porém, ao passar dos anos, ele associou o movimento de apertar o MI com o movimento de levantar os ombros. Talvez ele tenha associado esses dois movimentos porque a princípio o gesto de levantar os ombros facilitava o gesto de apertar o MI. Ou talvez porque o momento da música quando o MI se faz ouvir inspira uma certa emoção que o pianista exprime levantando os ombros. Saber exatamente o porquê de certas associações se estabelecerem pode ser esclarecedor, mas não é imprescindível para que a pessoa aprenda a dissociar os gestos. Anos se passam e muitos MIs são tocados. O pianista sobrecarrega continuamente a articulação dos ombros. Ele começa então a sentir dor nos ombros. Em seguida, dores lombares. Em seguida uma sensação de falta de ar, cada vez que se senta para tocar.

Uma estrutura que está sobrecarregada por seu uso repetitivo e inconsciente termina por se desgastar. Com o desgaste da estrutura se desencadeiam dor, desconforto e perda de funcionalidade. Um quadro de dor crônica afeta o humor, a auto-estima e a vida social de uma pessoa. Reflexos e automatismos nos permitem sobreviver – física e emocionalmente. Mas estamos na Terra não para sobreviver, mas para viver e usar todo o potencial que temos como seres humanos.

A Educação Somática aborda esse tipo de problemática investigando junto com a pessoa a maneira com a qual ela se move. No caso do pianista, a maneira com a qual ele toca piano engendrou uma série de compensações que resultam em dor e perda de funcionalidade, tal como coloca Goldfarb (1998):

Uma contratura muscular crônica significa que os músculos permanecem contraídos permanentemente. Por isso, eles não podem mais fazer seu papel primordial de se contrair para fazer os ossos se moverem. Essa contração crônica não tem por efeito somente a de restringir a liberdade de movimento de uma articulação, mas ela age também como um amortecedor, “absorvendo” o movimento ao invés de deixá-lo transmitir-se ao resto do esqueleto[7].

Se a atitude cifótica do pianista muda, muda também a relação de seu corpo com o piano[8]. A perda de referência da relação piano-corpo pode levar o pianista a perceber que « endireitando » a coluna  ele não consegue mais tocar como costumava.  Ele prefere então, manter a cifose do que perder o prazer de tocar ou ameaçar sua carreira de músico, caso sua performance seja ruim.

Para contornar a associação entre tocar o MI e contrair inutilmente músculos dos ombros e pescoço, três etapas são necessárias ao pianista: sentir, perceber e reaprender. Para executar uma mesma tarefa – pressionar a tecla MI do piano – usando um gesto livre de tensões inúteis, é preciso em primeiro lugar sentir. Sentir aquilo que estou fazendo: meu dedilhar no piano, o MI acompanhado de um certo estado tônico.  Perceber meu corpo de um ângulo diferente daquele com o qual estou habituado: perceber que o gesto de tocar o MI não precisa de um esforço muscular extra: esse gesto pode ser ancorado na cintura escapular, por exemplo. Em seguida, reaprender a conectar o movimento de tocar o MI com a rotação da coxo-femoral dentro do acetábulo, sustentado pelo apoio dos pés no chão e dos ísquios na cadeira. Essas conexões permitem o que a cintura escapular possa fazer seu trabalho: sustentar o gesto de tocar o MI, que não está isolado do resto do corpo e não precisa de tanto esforço para ser realizado uma vez que se usa o suporte ósseo das cinturas pélvica e escapular.

O processo de descondicionamento gestual é um refinamento da capacidade de adaptarmos nossas respostas a diferentes circunstâncias; um processo de reorganização de nossa imagem corporal; o aguçar da capacidade de perceber o que Veillete (2003) chama de Eco do Movimento. Se a pessoa experimenta outras maneiras de mover-se, ela modifica seu funcionamento como um todo. Ter um vocabulário gestual rico equivale a se ter uma alimentação variada. Se a pessoa percebe as transformações que se operam nela, ou seja, se ela está presente ao Eco do Movimento, por mais sutil que seja, a pessoa pode apropriar-se das mudanças, pois essas mudanças vêm de dentro.

O somatoeducador usa o terreno fisiológico, fornecendo à pessoa ferramentas auto-educacionais das quais ela pode dispor no dia-a-dia e obter respostas motoras renovadas.

Goldfarb, professor do método Feldenkrais, esclarece qual o papel da Educação Somática em casos como esse:

A primeira coisa que um aluno aprende é que é possível sentir-se diferente. A partir disso, ele pode tornar-se consciente de sua maneira de mover-se e de que maneira ela está atrelada aos problemas dos quais ele reclama[9]. (Goldfarb, 1998, p.131)

Matthias Alexander, criador da Técnica de Alexander,  formulou o conceito de Inibição a partir das observações que fazia de si próprio : “Segundo Alexander, a Inibição não é supressão, mas intenção. Ela nos permite realizar aquilo que decidimos realizar.”(Brennan, 2006, p.52)[10]. Trata-se de descobrir novas soluções para mover-se, que consiste em: “parar, antes de reagir instintivamente a uma dada situação” (Brennan, 2006, p.47)[11]

Linda Hartley explica que:

A doença, do câncer aos problemas psicóticos, pode ser vista como expressão do grau ao qual o corpo-mente é incapaz de responder, de se abandonar, de mudar (…). Essa capacidade de responder é ao mesmo tempo o suporte e a medida de nossa saúde.”(Hartley, 1995, p.124-125)[12]

Se o processo de descondicionamento gestual reflete uma nova capacidade a responder a nível motor e/ou a nível afetivo, a ativação da autenticidade somática é reconhecer a si próprio em uma nova configuração, uma nova imagem corporal.

Gómez (1997) usa o termo “modular” para indicar o resultado de um processo de descondicionamento gestual:

Modular é passar melodicamente de um tom a outro. Geralmente se usa essa palavra em relação a sons e tons musicais. Aqui nos referimos à capacidade de modular a atenção e os movimentos através do corpo de diversas maneiras a fim de conseguir ajustar nossos estados internos às exigências externas e vice-versa, satisfazendo assim às nossas necessidades[13]. (Gómez, 1997, p. 3)

Uma pessoa em processo de descondicionamento é alguém que cultiva a variedade de seu vocabulário gestual. Liberar a memória corporal de gestos que não são mais necessários para se tocar a nota MI. Limpar o corpo das impressões deixadas pelas tensas relações do dia-a-dia. Reconhecer as diferenças entre as situações e estar apto a escolher dentre as cores de sua paleta gestual, as que são mais adequadas para o cumprimento de uma ação.

O corpo não é um animal que devemos domesticar; não é uma máquina que devemos fazer funcionar; não é um pecador que devemos punir, nem um escravo que devemos obrigar a trabalhar. O corpo é um estado de consciência a ser explorado.

Mas, então, porque tanto incômodo? Quem é o culpado do desconforto nosso de cada dia ? Será que é a sociedade, que nos impõe padrões de beleza quase inalcançáveis ? Ou um estilo de vida onde o corpo é tratado como máquina ? Mas, se a sociedade é feita de nossa própria carne, como é que fica ?

Os somatoeducadores dispõem de um sem-número de técnicas para levar os alunos a ampliar sua noção de corpo, muitas vezes limitada ou deformada por valores sócio-culturais. Essas  técnicas se fundamentam em uma visão de que a saúde só se manifesta se a pessoa toma consciência do papel que seus hábitos de vida têm tanto na origem e manutenção do quadro patológico. Consciente de que seu bem-estar é sua responsabilidade, a pessoa compreende a importância de tomar atitudes concretas em seu dia-a-dia para prevenir recaídas. Todos os métodos de Educação Somática investem na reativação do potencial de auto-regulação e auto-cura do organismo humano.

Os métodos de Educação Somática não ensinam seqüências de movimentos pela repetição. Repete-se os movimentos para se observar como são executados. Gerda Alexander[14], criadora da Eutonia, diz que o objetivo não é de se tornar um virtuoso: « Não se trata de se ter a maestria da técnica de um movimento, mas de ir fundo dentro de você mesmo e crescer como uma pessoa total. É um processo de maturação do ser. »

Gyrotonic e Pilates contradizem esse princípio, pois a execução dos exercícios é conseguida pelo aluno através do modelo que o professor encarna. Porém, não podemos descartar o fato de que muitos profissionais que trabalham nessas duas linhas bebem da fonte de métodos somáticos que privilegiam o sentir.  Se de um lado elencamos o Gyrotonic e o Pilates dentre os métodos apresentados como pertencentes à Educação Somática nesse livro, temos de admitir que eles vivem na fronteira do território explorado pelos somatoeducadores. Foi proposital a inclusão do Pilates e do Gyrotonic no Em Pleno Corpo. No Brasil, os profissionais que trabalham com movimento estão em uma fase de busca de identidade para o tipo de trabalho que fazem. Terapia corporal? Trabalho de corpo? Técnicas somáticas?  Se de um lado, há controvérsias a respeito da presença do Pilates e do Gyrotonic nesse livro, talvez porque chegou o momento de se definir, em concertação, o que é Educação Somática no Brasil.

A autenticidade somática emerge de uma intimidade com nossos próprios processos internos (fisiologia, sensação, sentimento, pensamento, percepção…) e não é contraditória com a identidade sociocultural. A autenticidade somática é tal qual um vaso: fornece umcontainer à identidade sociocutural. Somos ao mesmo tempo relação e singularidade. Sem a autenticidade somática como referência, nós seríamos apenas máscara, clã, trupe, “galera”, massa. Nós nos definiríamos apenas através do pertencer a um grupo e nossa singularidade seria abortada. Sentir(-se) equivale a reconhecer sua unicidade. Goldfarb (2006, p.116) conclui: « Sentir é apreciar uma diferença, fazer uma distinção.[15] »

De quem é meu corpo ? O corpo contemporâneo luta para remediar a precariedade de sua aparência; esforça-se para ser mais do que um fantasma virtual no Orkut; debate-se contra às incansáveis  solicitações de consumo e sobrevive em meio às exigências de produtividade. Então, de quem é meu corpo afinal ?

Autenticidade é singularização, o corpo como experiência. À medida que uma pessoa refina sua capacidade de sentir(-se), mais o corpo se assume como instrumento inteligente, capaz de neutralizar desequilíbrios através de uma tecnologia interna.

Tecnologia interna

 

Vida é o que acontece a você enquanto

você está ocupado fazendo outros planos.

 

John Lennon

 

Aprender a manipular os instrumentos de uma tecnologia interna significa que a pessoa sabe como adaptar sua organização corpórea durante a execução de um gesto em um dado contexto de modo a não deteriorar sua estrutura física nem comprometer sua integridade psíquica.

Desde a Revolução Industrial, testemunhamos o estabelecimento de um modo de vida cada vez mais ancorado na tecnologia. É claro que a inventividade é inerente ao Homem. O que queremos ressaltar é fato dessa produtividade desenfreada de tecnologia estar dissociada de valores humanos, divorciada do cuidado, na medida em que vale mais a quantidade de tarefas realizadas e a rapidez com que são executadas do que a qualidade na execução dessas tarefas.

A Educação Somática coloca o foco de atenção no como se realiza uma ação. O como ao qual me refiro não é saber apertar um botão de uma câmera fotográfica para regular o foco. O como, visto pela ótica da tecnologia interna, é o saber alinhar meu corpo junto com a câmera para tirar uma foto sem ficar com um torcicolo, por exemplo. Esse saber é muito útil sobretudo se eu sou fotógrafo profissional e o ato de fotografar é repetido muitas vezes por dia. Pelo desenvolver de uma tecnologia interna o corpo torna-se instrumento. Sei como utilizá-lo sem abusar de seus limites.

Se sou garçonete de um restaurante, de que modo seguro as bandejas pesadas para servir os clientes de forma a evitar dores na lombar?  Se sou bancário, será que respiro enquanto conto as cédulas? Ou será que diminuo minha amplitude respiratória ao contar  dinheiro, anestesiando meu sentimento de descontentamento? Se sou funcionário de uma empresa, como estou sentado diante de meu computador ? Será que eu “torço” meu corpo para  me adaptar à tela e termino minhas jornadas de trabalho em um estado de fatiga insuportável ?

Essas pequenezas do dia-a-dia se acumulam em nosso corpo. As tarefas de sobrevivência são repetidas muitas vez por dia a cada dia durante anos e anos. É na noção de cuidado que reside uma das chaves para renovar os padrões psico-físicos que nos permitem sobreviver.

O cuidado é filho da reverência e do sentimento de valor. É somente através do valor da vida que podemos cultivar a tecnologia interna. É a visão de um continuum entre eu e o vasto-fora-de-mim que permite o acesso a uma tecnologia interna de autoregulação. Tal como indica Boff (1999), o cuidado implica proximidade, intimidade, respeito. Essa tecnologia homeostática inerente a todo ser vivo zela pelo equilíbrio entre o indivíduo e o meio.

Se os mecanismos de autoregulação estão funcionando bem, é possível desconstruir todas as marcas que uma crise de pânico possam ter deixado no corpo. Porém, se os mecanismos de autoregulação não estão funcionando bem, a pessoa tem de recorrer, de tempos em tempos, a medicamentos ou drogas para reduzir os sintomas do pânico. E se os mecanismos de autoregulação estão totalmente desativados, para sobreviver, a pessoa se torna dependente do consumo de medicamentos ou drogas a fim de salvaguardar seu equilíbrio e poder funcionar no dia-a-dia.

Mesmo se o mundo “externo” não está a nosso “favor” nas correntes situações do cotidiano que nos parecem injustas, entendiantes, demasiadamente exigentes ou absurdas, a tecnologia interna é um espaço de liberdade. Por tecnologia interna não queremos dizer que, para manter sua liberdade, uma pessoa deva pensar em uma casinha de campo com passarinhos cantando cada vez que uma situação de estresse se apresenta. Tecnologia interna é o acesso voluntário que podemos ter aos processos fisiológicos que nos autoregulam. Por exemplo, em uma fila de banco insuportável, posso observar que meu maxilar se fecha, se contrai, os olhos se crispam e uma sensação de frustração começa a me tomar. A frustração pouco a pouco começa a se tornar mais intensa, à medida em que os meus companheiros de fila se põem a reclamar da falta de funcionários suficientes para atender a uma fila tão grande. Através do que vivi em aulas de Educação Somática, para modular as tensões que começam a se acumular em meu corpo diante da longa espera na fila e da irritabilidade geral dos presentes, lembro-me de respirar, sacudir minha cabeça imperceptivelmente, ancorar meus pés no chão, destravar meu maxilar deixando a boca entreaberta, os lábios úmidos e o olhar periférico, amplo. Brinco com meus próprios processos fisiológicos porque sou capaz de reconhecer o mal estar que me gera a presente situação e sou capaz de me dirigir  intencionalmente ao bem estar que já experimentei nas aulas de Educação Somática.  Aceder à tecnologia interna é impedir que os estresses inerentes à vida se acumulam em meu soma, a ponto de se tornarem irremediáveis. Sei reconhecer o que me faz mal e sei ativar mecanismos que me permitem retornar a um estado de bem estar.

O conceito de comanda intencional de Goldfarb esclarece as premissas acima:

A comanda intencional, ou seja, a possibilidade de escolher, se fundamenta em um processo de comparação ancorado na faculdade de perceber diferenças. Notaremos que a escolha pressupõe diferença : sem diferença, não há escolha possível[17]. (Goldfarb, 1998, p.97)

Saber o corpo

Frequentemente limitamos nosso vocabulário gestual aqueles movimentos que nos trazem o resultado esperado, mesmo se esses movimentos desgastam nossa estrutura e geram dor. Associamos gesto X à resposta desejada Y. Desta forma, terminamos por não ousar gestos diferentes dos habituais, por medo de que as respostas sejam diferentes daquelas desejadas.

O papel do educador somático é o de levar o aluno a melhorar o estado de sua saúde através de uma auto-investigação do movimento de seu corpo. Dentro das aulas, são propostos aos alunos movimentos cuja intenção é a desenvolver sua propriocepção. A partir do sentir emerge o perceber. O aluno toma consciência de que sua maneira habitual de mover-se está ligada à patologia da qual se queixa. Uma vez percebida que a maneira habitual de mover-se tem relação e/ou mantém uma dor, o aluno entra em um processo dedescondicionamento gestual, ou seja, aprende novas maneiras de mover-se que previnam lesão e promovam bem estar.

Se body building significa “construindo o corpo”, Educação Somática significa “descondicionar o corpo”. E se “malhar” significa “dar forma, batendo com um malho”, educar-se somaticamente corresponde ao trabalho do joalheiro lapidando uma pedra preciosa. Enquanto o fitness evoca a busca de um corpo que se “enquadra” nos modelos da moda (do inglês “to fit”), os métodos somáticos desatam o corpo de uma série de idéias preconcebidas que engessam a imagem que temos de nós mesmos e anestesiam nossa relação com os demais.

Uma vez que o aluno permitiu-se entrever a possibilidade de sentir-se diferente do que ele sente habitualmente, atentando aos Ecos do Movimento que aprende nas aulas de Educação Somática, ele entra em um processo de busca de sua autenticidade somática.Autenticidade somática é o valor do sentir-se único, porém pertencente à família dos seres vivos.

Então, a pessoa pode testemunhar que não é ela que faz movimentos, mas que movimentos passam por ela, aquilo que Veillette (2003) denomina Corps Vaisseau ou Corpo Veículo, conceito que aponta em direção à definição que Nisargadatta Maharaj faz do corpo: “ O que há é um fluxo de sensações, percepções, memórias e idéias. O corpo é uma abstração criada por nossa tendência a gerar unidade na diversidade (…)” (1973: 135)[18].

Ninguém pode parar o fluxo de mudanças da vida. Mas, como é possível alguém mudar um padrão motor de defesa, se ela vive em um ambiente de violência, pressionada a uma produtividade insana, à competição, ao medo, à injustiça social e à poluição sonora, moral, visual? Como lidar com as mudanças somáticas que experimentamos no contexto das aulas, se elas entram em conflito com o estilo de vida que levamos?

Quando uma pessoa não tem acesso à sua interioridade, o mundo “exterior” é sua única realidade – fonte de prazeres e infelicidades aos quais ela se sente submetida. A prática dos movimentos propostos pelos métodos de Educação Somática leva o aluno a cultivar sua capacidade de observação do  próprio funcionamento e de sua relação com o mundo. O contexto das aulas de Educação Somática é um laboratório onde o aluno refina sua capacidade psicomotora de adaptação a várias demandas. Mais a pessoa tem intimidade com seus próprios processos fisiológicos, mais ela encontra dentro de si estratégias criativas para negociar com as exigências do “mundo externo”.

A esse processo denominamos tecnologia interna: o uso intencional dos mecanismos de autoregulação. O estado de bem estar vivido em aulas de Educação Somática é transferido para situações que acontecem fora da sala de aula:  testemunho um possível desequilíbrio se instalar e comando intencionalmente o reequilíbrio usando recursos de meu próprio soma.

EM PLENO CORPO deixa claro que cada método de Educação Somática tem uma história e princípios pedagógicos próprios. Porém, os métodos possuem em comum uma linguagem que permite que o conhecimento emerja da experiência corpórea.  Acreditamos que seja a linguagem da Educação Somática uma pista que aponta em direção à uma definição do que é o campo da Educação Somática. É o que veremos nos capítulos a seguir.

NOTAS DE RODAPÉ

[1] “A soma isn`t a body and it isn`t a mind; it is a living process (…) Life is a movement process, and the soma is a process of unified movement (…) A soma is a body of functions (…) and the more general fact is that all somas operate by intentions (…) Human somas operate as free intentional beings. They always intend and the intention is that which mobilizes their functions”. Tradução da autora. MILZ, Helmut. « A conversation with Thomas Hanna, Ph.D. » Somatics : Magazine-Journal of the Body Arts and Sciences, vol. VIII, n. 2, 1991, p. 50-56.< http://somatics.org/library/mh-hannaconversation.html > Acesso em 2 de outubro 2010.

[2] STRAZZACAPPA, Márcia. Educação Somática: seus princípios  e possíveis desdobramentos.  Revista Repertório Teatro e Dança.  V.2 n.13, 2009, p.48.

[3] D. Le Breton (1990), Anthropologie du corps et modernité. Paris : Quadrige / PUF,  8.

[4] “ (…) the problem is not that we don’t know enough about the brain or about biology, the problem is that we don’t know enough about experience.”  SCHARMER, O. (2000). “Conversation with Francisco Varela”, entrevista publicada em 20 de junho de 2000, disponível no site <www.dialogonleadership.org/varela-2000.html.>  Acesso em 9 de julho de 2000.

[5] Graciano, Romeo. A física desvela a consciência. Revista Planeta edição 335, ano 28, nr. 8, agosto 2000, p. 20.

[6] … vous n’apprendrez rien de nouveau, mais vous désapprendrez un certain nombre d’habitudes que vous avez acquis au cours de votre vie. (Brennan, 2006, pg. 210).  Tradução da autora.

[7] Une raideur musculaire chronique signifie que les muscles  restent contractés en permanence. De ce fait, ils ne peuvent plus jouer leur rôle primaire qui est de se contracter pour faire se mouvoir les os. Cette contraction chronique n’ a pas seulement pour effet de restreindre la liberté de mouvement d’une articulation, mais elle agit aussi comme un amortisseur en « absorbant » le mouvement au lieu de le laisser se transmettre au reste du squelette. (Goldfarb, 1998, pg. 51). Tradução da autora.

 [8] Segundo as próprias palavras do pianista, sua relação com o meio ambiente também apresentou mudanças: “Depois das sessões com minha fisioterapeuta, comecei a perceber que eu olhava mais para as pessoas.”

[9] La première chose qu’apprend l’élève est qu’ il est possible de se sentir différent. Cela étant, il peut devenir conscient de la manière de bouger et de la façn dont celle-ci est reliée aux troubles dont il se plaint.  (Goldfarb, 1998, p.131). Tradução da autora.

[10]Selon Alexander, l’Inibition n’est pás l’expression d’une supression, mais d’une intention. Elle nous permet d’accomplir ce que nous avons décidé d’accomplir.(Brennan, 2006, p.52). Tradução da autora.